O dia
Até que chega o dia que a decadência moral fala mais alto e você com nada mais se importa. Se antes sofria ao ver a vida mísera do outro, hoje isso faz parte da geografia da cidade. Chega o dia em que ninguém te dá um conselho que sirva e começa a pensar que caminhar para o nada parece mais confortável que buscar os sonhos impossíveis. O dia que você percebe que as pessoas que dizem para você não desistir dos seus sonhos já desistiram dos sonhos delas faz tempo e aquela cara fraternal é a coisa mais mal ensaiada do mundo. Será o fim? Percebe que faz as coisas que jurou nunca fazer e ainda faz pior que imaginava. Você se lembra do quão cretina era certa pessoal até que você faz a mesma coisa e tudo se encaixa. O agonizante tempo da falta de fé e esperança, vestida com uma realidade monocromática. O dia que se percebe o quanto se está velho e infeliz. O dia que se percebe que o seu falso castelo foi construído com um sacrifício que nunca será recompensado. O dia em que se encontra na mais profunda racionalidade e diz aos quatro ventos que quer sumir do mundo. O dia em que reparamos nossa solidão e aflição perante o abandono divino. Chega o dia que você não valoriza mais nada, nem sequer se valoriza. O dia que você espera uma palavra e recebe o silêncio dos dias comuns. O dia que você pensa no amor e sente dores fatais cortarem a alma. O dia que o futuro não existe e o passado é uma fotografia que vai se danificando com o tempo. O dia que tudo parece ser mais turvo. O dia que que nada se espera e que nunca passa. Chega o dia que nada mais te impressiona além da percepção da mocidade escorrer feito água pelos dedos.
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