domingo, 20 de novembro de 2011

O ninguém

Ele é uma linha vertical na geografia da cidade. Cabelos sujos e pele empoeirada. Parece que nasceu lá. O marginal. O drogado. O pobre. O outro. O ninguém.
E quando ele anda não se define aquele corpo. Amontoado de ossos que mais parece um robô. Sai estralando rua a fora e dormindo ao lento. Pés descalços no asfalto escaldante. Corpo débil mas forte o suficiente para levar o peso do desprezo a de uma vida que não existe para ninguém. Não se sabe se conhece a mãe nem o pai, nem  se sonha. De longe se vê aquela fagulha mas é ignorado na mesma velocidade. Ninguém o quer fora de lá. É um patrimônio invisível. E todo dia é uma mão estendida e uma fome a roê-lo por dentro. E com placas mal escritas implora. E é como se não estivesse lá  e não existisse  para as estatísticas. Fosse forasteiro de sua cidade. São tantos vícios para fugir e conhecer. Histórias irreais para a esquizofrenia cotidiana mescladas com os fatos que o levou para lá. Se a morte lhe visita ninguém repara nem para. Assim ele fica. Esperando uma providência divina ou não. Pode ser só uma moedinha, moço, ou pode ser uma oração.

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