Tornar-se um muro, intransponível, não foi
uma tarefa tão difícil, precisei apenas escolher as mais duras e
indestrutíveis pedras para a base, selecionado-as, e colocando-as umas
sobre as outras. Assim, construí um muro perfeito de imperfeições.
Em
segredo comecei a obra, dia-a-dia, uma pessoa após outra, e, para minha
surpresa, percebi que algumas pedras estavam manchadas. Beijos, frases
acreditadas e algumas palavras que nelas tatuei. Lembranças deixadas por
pessoas inesquecíveis. Pessoas que, algumas, me lembro com muito
empenho, outras tantas que resolvi esquecer.
Após o muro
formado, as pedras machadas foram esquecidas enterradas na base juntas
com lembranças dispensáveis. Escureceram tornado impossível serem
revistas.
Nessa altura, algumas coisas foram diminuindo de
importância, beijos e palavras, já não permaneciam nas pedras, mesmo se
alguém se esforçar em deixá-los.
Levei muito tempo em uma
tarefa que teve muito da minha atenção. Meu coração ainda era sensível,
pulsava como uma sinfonia, a qual se podia até dançar com seu ritmo.
Primeiro, treinei meus ouvidos, coando as palavras, vezes ditas, vezes
sussurradas e, as transformei em líquido necessário para a construção.
Depois, reeduquei meus olhos e redirecionei experiências vividas em
energia para o esforço no trabalho.
Consegui, por fim, diminuir a sensibilidade do coração, diminui ate não sentir o pulsar.
Chegando a uma altura pretendida, tornando impossível ver a base, e as
pedras que podiam ser alcançadas, se tornavam cada vez mais frias, até
chegarem ao seu estado de dormência, criaram musgo, e o tempo as
envelhecera. Escorregadias, tornaram-se impossíveis de serem tocadas.
Era o seu auge, o olhar agora era fixo para frente, e, o mundo é tão
pequeno quanto imaginava. Já era tudo que pretendia ser - UM MURO
PERFEITO.
E adormecera no seu estado.
Michel Oliveira
(meu menino que dança)
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