segunda-feira, 7 de novembro de 2011

Muro


Tornar-se um muro, intransponível, não foi uma tarefa tão difícil, precisei apenas escolher as mais duras e indestrutíveis pedras para a base, selecionado-as, e colocando-as umas sobre as outras. Assim, construí um muro perfeito de imperfeições.

Em segredo comecei a obra, dia-a-dia, uma pessoa após outra, e, para minha surpresa, percebi que algumas pedras estavam manchadas. Beijos, frases acreditadas e algumas palavras que nelas tatuei. Lembranças deixadas por pessoas inesquecíveis. Pessoas que, algumas, me lembro com muito empenho, outras tantas que resolvi esquecer.

Após o muro formado, as pedras machadas foram esquecidas enterradas na base juntas com lembranças dispensáveis. Escureceram tornado impossível serem revistas.
Nessa altura, algumas coisas foram diminuindo de importância, beijos e palavras, já não permaneciam nas pedras, mesmo se alguém se esforçar em deixá-los.

Levei muito tempo em uma tarefa que teve muito da minha atenção. Meu coração ainda era sensível, pulsava como uma sinfonia, a qual se podia até dançar com seu ritmo. Primeiro, treinei meus ouvidos, coando as palavras, vezes ditas, vezes sussurradas e, as transformei em líquido necessário para a construção. Depois, reeduquei meus olhos e redirecionei experiências vividas em energia para o esforço no trabalho.

Consegui, por fim, diminuir a sensibilidade do coração, diminui ate não sentir o pulsar.

Chegando a uma altura pretendida, tornando impossível ver a base, e as pedras que podiam ser alcançadas, se tornavam cada vez mais frias, até chegarem ao seu estado de dormência, criaram musgo, e o tempo as envelhecera. Escorregadias, tornaram-se impossíveis de serem tocadas.
Era o seu auge, o olhar agora era fixo para frente, e, o mundo é tão pequeno quanto imaginava. Já era tudo que pretendia ser - UM MURO PERFEITO.
E adormecera no seu estado.



Michel Oliveira 
(meu menino que dança)

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