Talvez eu não sinta
dificuldade de escrever no escuro. Há tempos venho andando, escrevendo, vivendo
no escuro. Acostumei-me. Ficar até altas horas da noite acordada se tornou um
mal aproveitado hábito. Mas, hoje, paro minhas atividades automáticas para
dizer que esta noite não sequer uma estrela no céu que consiga iluminar o meu
rosto.
Parece mais que perdi um
membro. Amputaram-me. E sangrando fica andando pela casa, a procura de um
motivo que faça acordar e querer colecionar todos os dias tediosos que ão de
vir. Procuro um refúgio para meus pensamentos vãos. Nada encontro além de uma
janela aberta, esperando que eu procure nesse céu tão escuro, uma estrela que
me seja guia. Mal sabe a noite que o dia não chegará mais. E que posso passar o
resto da vida a vagar, procurando uma estrela que se foi e levou consigo toda a
beleza da noite. Levou o meu sorriso e o meu assunto. Eu até saberia fugir se
não fosse tão tarde. Mas já que não dá para se
esconder para sempre, me resta vagar sobrevida a fora. Tentando ajudar os outros com o que
resta de bom em mim.
Penso que viver não passe de
um caminhar calmo numa estrada estreita. Infelizes os que não querem acreditar.
Pensam que voar nos braços de um anjo seja menos doloroso que andar descalço
por essas curvas. Acontece que os apaixonados são como Ícaro. Chegam perto
demais do Sol, até que as asas frágeis se desfazem. Pobre Ícaro. Pobre de nós. Depois
que caí de volta a estrada, não parei para pensar se continuo. Na verdade, vejo
inútil. Tantos sonhos para nada. Mas as vezes volto para meu corpo. E quando
minhas chagas doem quando o vento bate e digo: prossiga, se vejo um sorriso
amigo: leva-me.
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