segunda-feira, 7 de novembro de 2011

Noite Um





Talvez eu não sinta dificuldade de escrever no escuro. Há tempos venho andando, escrevendo, vivendo no escuro. Acostumei-me. Ficar até altas horas da noite acordada se tornou um mal aproveitado hábito. Mas, hoje, paro minhas atividades automáticas para dizer que esta noite não sequer uma estrela no céu que consiga iluminar o meu rosto.
Parece mais que perdi um membro. Amputaram-me. E sangrando fica andando pela casa, a procura de um motivo que faça acordar e querer colecionar todos os dias tediosos que ão de vir. Procuro um refúgio para meus pensamentos vãos. Nada encontro além de uma janela aberta, esperando que eu procure nesse céu tão escuro, uma estrela que me seja guia. Mal sabe a noite que o dia não chegará mais. E que posso passar o resto da vida a vagar, procurando uma estrela que se foi e levou consigo toda a beleza da noite. Levou o meu sorriso e o meu assunto. Eu até saberia fugir se não fosse tão tarde. Mas já que não dá para se  esconder para sempre, me resta vagar sobrevida a  fora. Tentando ajudar os outros com o que resta de bom em mim.
Penso que viver não passe de um caminhar calmo numa estrada estreita. Infelizes os que não querem acreditar. Pensam que voar nos braços de um anjo seja menos doloroso que andar descalço por essas curvas. Acontece que os apaixonados são como Ícaro. Chegam perto demais do Sol, até que as asas frágeis se desfazem. Pobre Ícaro. Pobre de nós. Depois que caí de volta a estrada, não parei para pensar se continuo. Na verdade, vejo inútil. Tantos sonhos para nada. Mas as vezes volto para meu corpo. E quando minhas chagas doem quando o vento bate e digo: prossiga, se vejo um sorriso amigo: leva-me.

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